SÃO PELÁGIO ou São Paio, Menino, mártir. 26 de Junho
Lat.: Pelagius. Fr. Arc.: Pelay. Fr.: Pélage de Cordoue. Port. : Pelágio, Paio, Sampaio.
Também conhecido como Pelayo de Córdova. Com 10 anos de idade, foi tomado por
refém do rei mouro que libertou o seu tio, bispo de Tui, e outros soldados cristãos, vencidos,
no Vale de Junquera, em troca de outros sarracenos e pagamento em dinheiro. Foi torturado,
esquartejado e, finalmente degolado, em 825 (com 13 anos).
Por vezes, se confunde com Pelágio de Constança (Pelagius constantinus), Pelagius von Konstanz,
mártir da Ístria, decapitado em 283, cujas relíquias foram trasladadas para Constança, parte das quais
se guardam no mosteiro de Reichenau, junto do lago Bodensee. É o patrono da diocese e catedral de
Constança, associado a S. Conrado. Este representa‐se com a espada e a palma. Século XV: Tímpano do
portal norte da Catedral de Constança (Alemanha).
Trata‐se de um menino galego que foi martirizado em Córdova, sendo rei Abderramão
III, por guardar a Fé em Jesus Cristo e a sua castidade. Isto escreveu um clérigo de Córdova,
chamado Raguel, ao que parece, testemunha ocular.
Tendo o rei Abderramão declarado guerra feroz aos cristãos, no ano de novecentos e
vinte e um, no vale de Junquera e tendo vencido, muitos cristãos foram mortos e muitos
outros cativos. Entre eles, o bispo de Tui, chamado Hermógio (ou Hermígio), foi levado para
Córdova e lançado no cárcere, com duras prisões. O bispo prometeu dar, em resgate, alguns
mouros que estavam em seu poder e, enquanto os enviava ao rei, deixava alguns reféns. Entre
eles um menino, seu sobrinho, de dez anos que se chamava Pelágio. O rei concordou e o bispo
saiu do cárcere e, no seu lugar, ficou o menino.
O menino era muito formoso, quanto modesto. O Senhor que já o tinha escolhido para
ser mártir, favoreceu‐o de tal modo no cárcere que essa tribulação foi para ele um exercício na
virtude e nela se afinou, como o ouro no crisol. Era muito honesto, assisado, sossegado e
prudente. Dedicado à oração, lia os livros santos, exercitava a virtude, afastava‐se das palavras
e conversas vãs, do riso vulgar e da zombaria, da dissolução, enfim, mais que um menino,
parecia homem maduro, no sensatez e maturidade. Assim esteve o menino na prisão, durante
três anos e meio, preparando‐se para que Deus lhe concedesse a graça que lhe havia de fazer,
dando‐lhe a coroa e a palma de mártir.
Estando o rei a comer, um criado, certo dia, exaltou a rara e admirável beleza do menino
Pelágio. Então, o rei ordenou que o tirassem, imediatamente, da prisão, onde estava
agrilhoado, e o trouxessem à sua presença e vista. Tiraram‐no da prisão e vestiram‐no
ricamente, falando‐lhe da boa sorte que lhe coubera, e puseram‐no diante do rei. O rei, como
era não menos torpe que infiel, ao vê‐lo, ficou cego com o esplendor da sua formosura e
começou a oferecer‐lhe honras, riquezas e outros dons e dignidades para ele e para os seus, se
deixasse de ser cristão e seguisse a lei do grande profeta Maomé. O santo menino, com muita
presença, respondeu: «Tudo o que, ó rei muito poderoso, me prometes, não é nada. Eu sou
cristão e sê‐lo‐ei, como tenho sido, sem nunca negar a Jesus Cristo. Pois que tudo o que me
ofereces é caduco, frágil e momentâneo. Mas Jesus Cristo, meu Deus e meu Senhor, que criou
todas as coisas e as mantém com as suas mãos, é eterno e não tem fim».
Quis o rei aproximar‐se do menino, para afagá‐lo e tocar‐lhe com desonestidade.
Pelágio, não como menino, mas como varão resoluto, censurou‐o: «Afasta, cão, o teu rosto.
Julgas que sou como os teus efeminados?» Dito isto, rasgou a rica roupa com que fora vestido
e lançou‐a para longe, a fim de estar mais desenvolto para a luta e combate que esperava, e
morrer, se fosse necessário, por Jesus Cristo.
Apesar disso, ao rei que estava tão preso e abrasado de paixão, aquelas palavras do
menino Pelágio e o seu gesto, nada o influenciaram para que desistisse do seu malicioso
intento. Ordenou aos criados que, com carícias e meiguices, procurassem persuadi‐lo a deixar
de ser cristão e se entregasse docemente aos seus depravados desejos.
S. Paio, mártir 2
Mas, como o rei visse que com ele perdia tempo, porque Pelágio era firme e vigoroso no
seu propósito, aquela inclinação que alimentava por ele, transformou‐se em ódio e aquela
meiguice em raiva e furor e, assanhado, com olhos que cintilavam e lançavam chamas,
mandou‐o imediatamente dependurá‐lo no patíbulo e soltá‐lo várias vezes até que a sua vida
se dissipasse ou ele deixasse de confessar Jesus Cristo como Deus. Logo se executou o que o
rei mandara, com muita crueldade. O santo menino estava com um semblante celeste, sem
mostrar fraqueza, preparado para padecer outros tormentos maiores que lhe quisessem dar.
O rei percebeu isto e, então, a sua fúria infernal tornou‐se maior. Por isso, ordenou que
lhe cortassem todos os seus membros, um a um e, depois de morto, o lançassem ao rio
Guadalquivir. Com isto, os ímpios e cruéis ministros se encarniçaram mais e se atiraram ao
santo menino. Um feriu‐lhe um braço, outro encurtou‐lhe as pernas, outros golpearam‐lhe a
cabeça e outros divertiam‐se com os variados tormentos que lhe aplicavam. O seu sangue
escorria como um rio por todas as partes do bendito corpo. Mas o espírito de Pelágio estava
muito sereno e sossegado, como se não fora seu, mas de outro, aquele corpo que padecia.
Invocava Jesus Cristo, suplicando: «Livrai‐me Senhor das mãos dos meus inimigos».
Tentando levantar as mãos ao céu, cortaram‐nas os verdugos e, depois, a cabeça. E, com
esta morte, entregou o espírito ao Senhor. Por fim, lançaram o santo corpo ao Guadalquivir.
Os cristãos devotos procuraram‐no, encontraram‐no e sepultaram‐no na igreja de S.
Genésio (São Gens) e a cabeça, na igreja de S. Cipriano.
O seu martírio deu‐se num domingo, em 26 de Junho de 926. (Segundo Ambrósio de
Morales e o cardeal Barónio, em 925, porque foi nesse ano que 26 de Junho caiu num domingo
e não no ano 926). O seu tormento durou cerca de seis horas, a partir da uma da tarde. Com
ajuda de Deus, S. Pelágio combateu com os duríssimos tormentos e venceu‐os com grande
fortaleza de espírito.
O rei D. Sancho, o gordo, filho do rei D. Ramiro II, enviou uma solene embaixada ao rei
de Córdova, para tratar da paz e pedir‐lhe o corpo do santo menino Pelágio e obteve‐o. Quem
recebeu o corpo foi o rei D. Ramiro III, por morte do pai, e colocou‐o num mosteiro que seu pai
tinha edificado para o santo. Depois foi trasladado para Oviedo, a oito de Novembro de 1023,
onde se conserva.
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